História da Banda Carlos Gomes

O Ínicio

Por volta de 1860, Jaú iniciou uma era de prosperidade com a cultura do café, em que iria atingir um ápice de desenvolvimento e riqueza. Isso atraiu muitos imigrantes de várias nacionalidades, principalmente italianos, que chegaram a partir de 1870.

Em 1900, a cidade era uma das mais prósperas do estado e a quinta em população, perdendo apenas para São Paulo, Ribeirão Preto, Campinas e São Carlos. Isso refletia na cultura e uma demonstração era a presença de duas bandas musicais na cidade em 1892: uma banda brasileira, a “Regeneração Nacional”, comandada pelo maestro Bento Lopes (Neto), e outra uma banda italiana, a “Giuseppi Verdi”, regida pelo maestro Arthur Cavalieri.

Havia muita rivalidade entre as duas corporações, causadas pela questão da ascendência e também pelo repertório que apresentavam. Esses desentendimentos foram se agravando e geraram fatos desagradáveis que tornaram a situação insustentável.

Em 1896, chegou em Jaú o maestro Heitor Azzi, muito talentoso musicalmente e fundou a banda “Giacomo Puccini”, que obteve um êxito extraordinário e fez parte ativa da vida cultural da cidade. Fundou, também, o teatro de revistas “Traços e Troças”, que retratava os costumes sociais da época.

O sucesso durou pouco, porque em 1898, a banda foi dissolvida por causa de intrigas e desentendimentos entre os músicos, o que causava uma imagem negativa na cidade e, desse modo, Jaú perdeu a sua melhor corporação.

Formação da Banda

Mas, como a música fazia parte da vida de brasileiros e imigrantes, principalmente italianos, que residiam na cidade, os músicos se juntaram e na sede da banda “Regeneração Nacional”, fizeram nascer aquela que desta época até os dias atuais é orgulho para Jaú: a corporação musical “Carlos Gomes”, cujo maestro era Heitor Azzi.

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A Regência da Banda

Passados vários anos, Heitor Azzi deixou a cidade, mudando-se para São Paulo. A regência da banda passou para José Fornalé, um entusiasta que ocupava o cargo de contramestre, auxiliando Azzi na sua função. Durante muitos anos foi regente da corporação e transformou a sede da banda em escola de música, formando seus filhos Romeu, Danilo e Juliano.

Passou todo seu conhecimento da arte musical para os inúmeros alunos, entre eles, Genésio Vendramini, seu atual regente.

Com a morte de José Fornalé, seu filho Danilo assumiu a regência da Carlos Gomes até 1965, quando se afastou para tratamento de saúde. Seu irmão Romeu assumiu seu lugar até 1970, quando faleceu. Mesmo doente, Danilo reassumiu seu posto e nele ficou até a sua morte em 2005. A partir desse ano, houve vários regentes: Braz Borin, Laurentino da Silva e Tiago Morandi.

Em 2008, o professor de música Genésio Vendramini assumiu a regência, trazendo consigo vários alunos do Aristocrata Clube, onde ministrava aulas de música para ingressarem na banda, enriquecendo-a. Genésio reformulou todo o repertório e conseguiu com sua liderança, trazer mais união e entusiasmo ao grupo.

Nunca deixou de lado a tradição de ter em seu repertório músicas de autoria dos grandes maestros e excelentes músicos que passaram pela banda, como Heitor Azzi, Danilo e Romeu Fornalé, Luiz Minguetti e que fazem parte da história musical da cidade, inclusive com passagem pela Orquestra Continental de Jaú.

História da Nossa Sede

Muitos músicos, como os citados acima, deixaram sua marca na história da banda e Manoel Carlos Thomas foi um deles. Apaixonado pela corporação, no final da década de 1930, tomou para si a responsabilidade de conseguir uma sede própria.

Para isso fez campanhas, pediu auxílio aos comerciantes, empresários e fazendeiros, buscou donativos através de um livro de ouro e com isso conseguiu comprar um terreno na rua Quintino Bocaiúva, nº 10, no centro da cidade para construir uma sede própria, sempre com ajuda da população que nunca negou ajudar a tradicional banda.

A construção se deu por volta de 1940. Contava com um salão para ensaios na frente e uma casa com quatro cômodos que servia de moradia do maestro.

A sede permaneceu nesse endereço até 2003, quando a corporação recebeu uma proposta e permuta com outro imóvel, situado na Alameda Dr. Esperança, sua sede atual. O filho de Manoel, Benedito, faz parte da banda como percussionista.

A Banda Carlos Gomes na História de Nossa Cidade

Em 1987, a corporação Musical Carlos Gomes foi considerada de utilidade pública, através da lei 2.640, de autoria do prefeito Sr. Celso Pacheco de Almeida Prado.

Em toda a sua história de mais de cem anos, a Corporação Musical Carlos Gomes participou de todas as festividades, cerimônias e eventos importantes da cidade, como a festa da passagem do século XIX para o século XX, animando a população com suas músicas.

Durante o século XX, a corporação esteve presente em todas os principais acontecimentos da cidade. Participou da fundação do Colégio São José, uma escola feminina dirigida pelas irmãs de São José e do Colégio São Norberto em 1901, nessa época denominado Atheneu Jauense, uma escola masculina, que a partir de 1915 passou a ser dirigida pelos Cônegos Premonstratenses.

Em 1922, participou da posse do décimo segundo Presidente do Estado de São Paulo, Carlos de Campos, que era filho do também Presidente Bernardino de Campos. A corporação ficou em primeiro lugar em um concurso realizado na época em São Paulo. Participou das inaugurações da instalação da energia elétrica (28-09-1901), da rede de água e esgoto de Jaú, do calçamento das ruas (1909).

Em 1941 esteve presente na inauguração da nova estação ferroviária que foi construída especialmente para a chegada do primeiro trem de bitola larga do interior. Também, no ano de 1922 desfilou no Rio de Janeiro, acompanhada de escoteiros jauenses, por ocasião do Centenário da Independência do Brasil.

No mesmo ano foi a banda que se apresentou ao lado da Banda da Força Pública do Estado de São Paulo, que tinha 250 integrantes e um coral de mais de seis mil vozes. As duas bandas desfilaram pela Avenida Paulista até o seu final, chegando à Praça Minas Gerais, puxando um cortejo luminoso.

Nesse local foi inaugurada a estátua de Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, escritor brasileiro e autor da letra do Hino Nacional. Nesse dia, um fato encheu de orgulho a corporação jauense, pois a Banda da Força Pública resolveu incorporar ao seu repertório uma marcha de autoria do Maestro Heitor Azzi.

Em 15 de agosto de 1973, participou da inauguração do Estádio de Futebol Zezinho Magalhâes do Esporte Clube XV de Novembro de Jaú e dois dias antes, tocou para mais de vinte mil pessoas na inauguração da rodoviária da cidade (projeto do arquiteto Villanova Artigas), que contou com a presença do Presidente da República, General Ernesto Geisel.

Em 1984, participou do projeto “Vamos Bagunçar o Coreto”, patrocinado pela Secretaria de Cultura e Turismo de Jaú. De lá para cá, a banda continuou suas funções, sempre participando da vida cultural e cívica da cidade.

Essa é apenas uma parte da honrosa história da Banda Carlos Gomes, orgulho do povo jauense, parte integrante de suas tradições e que sobrevive graças ao trabalho abnegado de seus músicos e regente, que não poupam esforços para que Jaú não perca a sua mais tradicional e antiga banda musical.

Texto de Waldete Cestari

Fotos

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